A história de Paulo Afonso ficou mais pobre e mais triste. Mais uma memória privilegiada se apaga. Faleceu na madrugada desta terça-feira, em Salvador, o pioneiro da Chesf, Bret Yolas Cerqueira Lima.
Ele chegou a Paulo Afonso no início das obras da Chesf e teve uma função estratégica na época ao coordenar as atividades da carga pesada do Serviço de Transporte da hidrelétrica, gerenciado por Enoch Pimentel Tourinho, num tempo em que as estradas eram o grande problema para o transporte das grandes peças dos geradores da primeira Usina de Paulo Afonso.
Bret também teve uma participação fundamental no registro da história dos primeiros tempos da Chesf, feito através de fotografias e de vídeos onde, como grande novidade para a época, há mais de 60 anos, contava desde o andamento das obras aos eventos sociais e esportivos, as grandes festas populares, a inauguração do Clube Paulo Afonso, desfiles cívicos e outros eventos.
A criação do Ginásio Paulo Afonso –GPA/COLEPA teve também a sua contribuição importante. Sem recursos previstos no orçamento aprovado para a construção da barragem Delmiro Gouveia e a Usina de Paulo Afonso, o Ginásio foi construído com doações de empresários e da comunidade de Paulo Afonso. Bret Cerqueira ficou à frente de uma campanha para arrecadação de fundos para a construção deste ginásio, fazia, com sua irmã, a esposa D. Neyde e a cunhada, shows no CPA e saia em campo vendendo os ingressos na feira e nos escritórios para esse fim.
Bret Cerqueira em foto histórica, filmando para a Chesf, no início das obras da hidrelétrica em Paulo Afonso
Ele fez campanhas para construir o GPA e foi exímio professor de Matemática
No Ginásio Paulo Afonso, do qual sua esposa Neyde Cerqueira Lima foi diretora por vários anos, Bret era exímio professor de Matemática. Ele mesmo relatou que o Ginásio passava periodicamente por inspeções de Ministério da Educação. Uma dessas inspeções foi feita pelo reconhecido professor Júlio César, autor de um livro muito lido na época chamado “Malba Tahan, o homem que calculava”.
Era hábito dos inspetores do MEC fazer uma avaliação dos professores e Bret se recusou a fazer esse teste e, ainda assim, teve o seu trabalho reconhecido e aplaudido por todos.
Era hábito dos inspetores do MEC fazer uma avaliação dos professores e Bret se recusou a fazer esse teste e, ainda assim, teve o seu trabalho reconhecido e aplaudido por todos.
Bret também foi pioneiro da comunicação escrita em Paulo Afonso ao fundar o jornal, mimeografado, chamado O Mandacaru, nome também dado a um foto que chegou a montar na então Vila Poty.
Em várias gravações que fez em Paulo Afonso, para a Galvídeo e para a Chesf, onde tivemos a alegria de compartilhar da sua companhia, contou sobre os difíceis primeiros tempos da Chesf. “Quando chegamos aqui não existia nada em Paulo Afonso, ou na Forquilha, como era conhecida essa região, também chamada de Peito de Moça. A gente trabalhava em Paulo Afonso e morava em Delmiro Gouveia ou na Vila da Pedra como se chamava ainda”.
Sempre que vinha a Paulo Afonso fazia questão de estar na Folha Sertaneja e com o amigo Euclides Batista. Ligava sempre para saber das novidades daqui e mantinha esse mesmo contato constante, por telefone, com Euclides. Outros com quem mantinha constante contato em Paulo Afonso era com Flávio Motta e Francisco Araújo, da Gerência de Operação.
Pelo seu trabalho na região, Bret Cerqueira recebeu, no dia 16 de abril de 2002, o título de Cidadão de Paulo Afonso, também concedido a sua esposa D. Neide Cerqueira e ao médico D. Lourival Muccini, ex-diretor Hospital Nair Alves de Sousa. O título foi proposto pela vereadora D. Risalva Toledo e, por estar doente naquele dia, foi entregue ao homenageado pelo vereador José Ivaldo de Brito Ferreira.
Em uma das suas vindas a Paulo Afonso, a convite da Diretoria da Chesf, Bret orientou a construção de uma maquete para mostrar como funcionou o sistema de ensecadeiras para o fechamento do rio São Francisco, um projeto de sucesso de iniciativa do Eng. Otávio Marcondes Ferraz, diretor técnico da Chesf. A maquete, em madeira, está exposta no Memorial Chesf de Paulo Afonso.
Com a partida de Bret, a história da Chesf e desta região fica muito mais pobre e amplia em nós o desejo de ver resgatada urgentemente toda esta memória viva que ainda existe em Paulo Afonso e outros lugares e que está se perdendo a cada momento.
Esta e outras gerações precisam conhecer a história dessa região. No livro ANGIQUINHO – 100 anos de história, feito em parceria com o escritor João de Sousa Lima, prestamos uma singela homenagem a Bret Cerqueira, de fato pequena para a grandeza de sua participação e de sua vida no desenvolvimento de Paulo Afonso dos primeiros tempos e insistimos para a Chesf, o governo municipal, instituições importantes e respeitadas na região, incentivem, estimulem, patrocinem pesquisas que venham resultar no resgate dessas memórias que, quase sem registro bibliográfico, vem se perdendo naturalmente, com a morte dos seus pioneiros, vencidos pela idade e pelo tempo.
Aprendemos muito com a convivência, mesmo que pouca, com Bret Cerqueira, a quem aprendemos a admirar e aplaudir.
A sua partida, aos 94 anos de idade, em que pese a nossa tristeza, serve como um estímulo para buscar esse resgate da história e da memória desta região.
A sua partida, aos 94 anos de idade, em que pese a nossa tristeza, serve como um estímulo para buscar esse resgate da história e da memória desta região.
O corpo do Dr. Bret Cerqueira Lima será cremado, às 16h e 30 minutos no Jardim da Saudade, em Salvador onde estarão presentes Nancy Coelho, Gilberto Pedrosa e outros representantes da Chesf de Salvador.
"Ele foi um valente, um guerreiro que nos últimos tempos conviveu com a perda da filha, da esposa, D. Neyde e com um AVC. E chegou aos 94 anos", diz Nancy, que também esteve com Dr. Bret nas várias vezes que ele veio a Paulo Afonso.
Ficam a nossa tristeza e a nossa saudade e a certeza de que a sua passagem por Paulo Afonso deixou marcas indeléveis na construção da história desta região.
Bret com o título de Cidadão de Paulo Afonso
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